Terapia Genética pode Restaurar Surdez Hereditária em Crianças

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Terapia Genética e  a Restauração da Audição em Crianças com Surdez Hereditária

Um estudo recente, co-liderado por pesquisadores do Mass Eye and Ear, membro do Mass General Brigham, destaca avanços significativos na terapia gênica, evidenciando sua eficácia na restauração da função auditiva em crianças afetadas por surdez hereditária.

Inovação que Transforma Vidas
Conduzido com seis crianças no Eye & ENT Hospital da Universidade Fudan, em Xangai, China, o estudo revelou a eficácia da terapia gênica inovadora para tratar uma forma específica de surdez autossômica recessiva, originada por mutações no gene OTOF (otoferlina), conhecida como DFNB9. Este é o primeiro ensaio clínico humano a administrar terapia gênica para essa condição, representando uma conquista marcante com o maior número de pacientes tratados e o acompanhamento mais extenso até o momento. Os resultados foram publicados em 24 de janeiro no The Lancet.

A Importância da Audição na Infância
A perda auditiva afeta mais de 1,5 bilhão de pessoas globalmente, sendo aproximadamente 26 milhões com surdez congênita. Mais de 60% dos casos de perda auditiva em crianças têm causas genéticas. A DFNB9, por exemplo, é uma doença hereditária causada por mutações no gene OTOF, resultando na ausência da proteína otoferlina funcional, essencial para a transmissão de sinais sonoros do ouvido para o cérebro. Atualmente, não existem medicamentos aprovados pela FDA para tratar surdez hereditária, abrindo espaço para inovações como a terapia gênica.

Testes Promissores com Seis Crianças
Para avaliar a eficácia do tratamento, seis crianças com DFNB9 foram monitoradas ao longo de 26 semanas no Eye & ENT Hospital da Universidade Fudan. Os colaboradores do Mass Eye and Ear utilizaram um vírus adeno-associado (AAV) para introduzir cuidadosamente o gene OTOF nas orelhas internas dos pacientes por meio de um procedimento cirúrgico especial. Diferentes doses da injeção do vetor viral foram aplicadas.

Todas as seis crianças tinham surdez total, indicada por uma média de limiar de resposta do tronco cerebral auditivo (ABR) superior a 95 decibéis. Após 26 semanas, cinco crianças apresentaram recuperação auditiva, evidenciada por uma redução de 40-57 decibéis nos testes de ABR, melhorias significativas na percepção da fala e a capacidade restaurada de conduzir conversas normais. Não foram observadas toxicidades limitantes de dose, e durante o acompanhamento, 48 eventos adversos foram registrados, a maioria (96%) de baixa gravidade, com o restante sendo transitório e sem impacto a longo prazo.

Resultados e Perspectivas Futuras
Os resultados do ensaio também serão apresentados em 3 de fevereiro na Reunião Anual da Associação de Pesquisa em Otorrinolaringologia.

Este estudo não apenas fornece evidências sobre a segurança e eficácia das terapias gênicas no tratamento da DFNB9, mas também destaca seu potencial para outras formas de perda auditiva genética. Além disso, contribui para a compreensão da segurança da inserção do AAV no ouvido interno humano. O uso bem-sucedido de um vetor viral duplo AAV, que carrega duas partes do gene OTOF, é particularmente notável, abrindo caminho para o uso de AAVs com outros genes grandes que normalmente excedem o limite de tamanho do vetor.

Agradecimentos e Compromisso com o Futuro
“Somos pioneiros no início do ensaio clínico da terapia gênica OTOF. É emocionante que nossa equipe tenha traduzido o trabalho de pesquisa básica em modelos animais de DFNB9 para a restauração da audição em crianças com DFNB9”, disse o autor principal do estudo, Yilai Shu, MD, do Eye & ENT Hospital da Universidade Fudan. “Estou verdadeiramente empolgado com nosso futuro trabalho em outras formas de perda auditiva genética para oferecer tratamentos a mais pacientes.”

Os pesquisadores planejam expandir o ensaio para um número maior de participantes e acompanhar os resultados ao longo de um período mais longo.

“Desde a invenção dos implantes cocleares há 60 anos, não houve um tratamento eficaz para a surdez”, enfatizou Chen. “Este é um marco significativo que simboliza uma nova era na luta contra todos os tipos de perda auditiva.”

Autoria: Co-primeiros autores incluem Jun Lv, Hui Wang, Xiaoting Cheng, Yuxin Chen, Daqi Wang. Co-autores sênior incluem: Wuqing Wang, Renjie Chai, Zheng-Yi Chen, Huawei Li, e Yilai Shu. Outros co-autores incluem: Longlong Zhang, Qi Cao, Honghai Tang, Shaowei Hu, Kaiyu Gao, Mengzhao Xun, Jinghan Wang, Zijing Wang, Biyun Zhu, Chong Cui, Ziwen Gao, Luo Guo, Sha Yu, Luoying Jiang, Yanbo Yin, Jiajia Zhang, e Bing Chen.

Divulgações: Kaiyu Gao é funcionário da Shanghai Refreshgene Therapeutics Co., Ltd. Zheng-Yi Chen é co-fundador da Salubritas Therapeutics. Os outros autores declaram não ter conflitos de interesse.

Financiamento: Fundação Nacional de Ciência Natural da China, Programa Nacional de P&D da China, Comissão de Ciência e Tecnologia do Município de Xangai e Shanghai Refreshgene Therapeutics.

Referência: Lv, J et al. “AAV1-hOTOF Gene Therapy for Autosomal Recessive Deafness 9: a single-arm 2 trial”. Journal DOI: 10.1016/S0140-6736(23)02874-X.